A Associação para a Prevenção da Tortura (APT) tem orgulho de anunciar o lançamento do novo manual de Inspeções Judiciais em Estabelecimentos de Privação de Liberdade, desenvolvido em conjunto com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o seu Programa Fazendo Justiça. Apresentada oficialmente em um evento transmitido online em 27 de maio de 2025, a publicação fornece a juízas e juízes brasileiros ferramentas práticas e uma metodologia aplicável a todo o país para realizar inspeções eficazes em centros de detenção.

O Manual serve à implementação da Resolução nº 593/2024, que regulamenta a atribuição legal insculpida na Lei de Execução Penal para que magistradas e magistrados fiscalizem mensalmente cada estabelecimento penitenciário. Assim, oferece orientações abrangentes sobre como tal obrigação deve ser cumprida, primando por uma abordagem baseada em direitos e boas práticas. O Manual é resultado de quase três anos de esforços conjuntos, diálogo com autoridades e investigação técnica.

Esta visão se encontra no cerne do trabalho da APT e em sua contribuição enquanto organização de direitos humanos perante a comunidade internacional, defendendo há quase 50 anos a adoção de medidas preventivas sistemáticas por parte dos Estados como elemento central para a proteção de direitos e da dignidade das pessoas privadas de liberdade. Considerando todo o ciclo penal, a supervisão judicial é, portanto, uma ferramenta poderosa para inibir abusos no cárcere e para assegurar que sentenças não sejam apenas legalmente impostas, mas também legalmente cumpridas.

Nós sabemos o quanto é difícil realizar inspeções a unidades prisionais, que é uma atividade específica, mas muitas vezes faltava esta normativa, faltava esta orientação que chega agora, para superar uma ausência, vencer uma omissão, a mesma e tantas outras omissões que nos trouxeram ao estado inconstitucional de coisas. Pois aqui então nós temos a grande chance da virada.  Aqui a chance do momento histórico de fazer diferente para poder fazer melhor. Por isso eu celebro esse momento vivamente.

Luis Lanfredi, Coordenador do DMF, Conselho Nacional de Justiça

 

Dividido em três volumes, o manual estabelece um calendário de inspeções temáticas mensais, instruções técnicas, parâmetros normativos, ferramentas de monitoramento e sugestões de providências para cada eixo temático pertinente, bem como insumos para resposta a ocorrências graves como torturas, mortes e situações de crise no ambiente prisional. Com uma abordagem eminentemente prática, ele buscar fornecer instruções concretas a perguntas como: O que deve ser observado durante uma visita de inspeção? Como documentar preliminarmente alegadas torturas ou maus-tratos? Quais normas se aplicam às condições de detenção?

A APT destaca o rigor técnico empregado durante o todo o processo de elaboração e que  caracteriza o conteúdo e os instrumentais apresentados. Ao trazer orientações metodológicas, formulários de inspeção e coletâneas de normas e parâmetros nacionais e internacionais que regem as condições de custódia, o Manual se torna um instrumento útil também para as demais instituições, órgãos e atores que desempenham um papel de fiscalização das unidades prisionais.

O contato inicial com o material já teve um impacto bem imediato e bem concreto nas visitas que eu particularmente pude fazer aos estabelecimentos penais. (...) Essa publicação proporciona aos magistrados e magistradas muito mais segurança jurídica e metodológica, inclusive na abordagem de temas sensíveis, como a questão de pessoas em situação de maior vulnerabilidade (...) Tudo isso contribuirá para que as inspeções deixem de ser meramente descritivas e possam ser mais propositivas, com foco na correção de irregularidades e na melhoria das condições de custódia.

Lorena Victorasso, juíza, Tribunal de Justiça de Pernambuco

O lançamento ocorre em um momento crucial, no qual o aparato estatal brasileiro tem avançado na elaboração do Plano Nacional Pena Justa, reconhecendo a ilegalidade das atuais condições de detenção e visando a reformar o sistema prisional. Trata-se de um desafio complexo e multinível, que exigirá uma atuação coordenada, pautada em direitos e sujeita à uma avaliação permanente e criteriosa acerca dos seus impactos efetivos nas condições de detenção. A APT acredita, portanto, que o Manual pode contribuir enormemente para tais objetivos, ajudando a demarcar uma oportunidade histórica de transformar as práticas penais e sua necessária supervisão no Brasil.

Nos próximos dias, uma série de recursos de apoio à implementação da Resolução CNJ nº 593 e do Manual conjunto com a APT serão disponibilizados no portal do CNJ.

Acesse os conteúdos aqui:  https://www.apt.ch/pt/centro-de-conhecimento/publicacoes/manual-inspecoes-judiciais-nos-estabelecimentos-de-privacao-de

News Friday, May 30, 2025

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